Socialismo utópico: entenda o movimento e seus principais pensadores

Surgindo como uma crítica ao sistema capitalista, o pensamento socialista nasceu no período entre as guerras napoleônicas e a Primavera dos Povos (1848), na metade do século 19, portanto.

Diante de um regime trabalhista que não contava com condições básicas de segurança ou dias de folga, e que sobrevivia à base da exploração de mão de obra (inclusive infantil) e de longas jornadas em fábricas sujas e lotadas de trabalhadores, alguns pensadores começaram a ver o problema da classe trabalhadora e resolveram pensar em formas de implementar um modelo socialista de sociedade. Esses primeiros planejamentos do socialismo hoje são conhecidos como socialismo utópico.

Quais são as características do socialismo utópico?

O termo “utópico” não é usado à toa quando estudamos este momento inicial do pensamento socialista, que também recebe a alcunha de “socialismo romântico” por alguns historiadores. Este romantismo e essa utopia têm a ver com as propostas fora da realidade que os primeiros pensadores socialistas propunham para solucionar os problemas trabalhistas e econômicos frutos do capitalismo.

Para esses pensadores, o ideal socialista se daria por meio de uma transformação social pacífica (ou seja, sem lutas armadas), promovida por uma revolução dos trabalhadores, que deveriam mostrar seu poder sem criar atritos entre a burguesia e o proletariado. Podemos dizer, então, que o socialismo utópico buscava:

• Criar uma sociedade ideal;
• Instaurar o cooperativismo;
• Implantar o trabalho coletivo;
• Instituir a igualdade social.

A ideologia do socialismo utópico, assim como o ideal iluminista, era a de que a liberdade do povo seria alcançada através do conhecimento, do progresso da razão e da plena felicidade dos indivíduos. Influenciados pelo pensamento do filósofo Jean-Jacques Rousseau, defensor da ideia de que a propriedade privada era a raiz da desigualdade social, os pensadores do socialismo utópico defendiam um movimento que simplesmente era inviável e não tinha como sair do papel.

Principais pensadores do socialismo utópico

Para continuar a compreensão sobre o movimento, precisamos falar a respeito de seus principais defensores e de como eles se posicionavam ao pregar que a igualdade social por meio da mudança pacífica da sociedade era a melhor forma de combater as mazelas provocadas pelo capitalismo.

• Conde de Saint-Simon: Este pensador idealizou uma sociedade perfeita, sem “ociosos”, na qual todos trabalhariam e produziriam, e que deveria ser controlada pelos sábios. O problema é que, no século 19, quem tinha o à educação, à leitura e às discussões políticas e filosóficas era justamente a burguesia, que, como era favorecida pelo sistema capitalista, não tinha interesse em defender mudanças sociais e reformas trabalhistas.
• Charles Fourier: Expunha os problemas causados pela desigualdade social, inclusive a forma como isso afetava a saúde da classe trabalhadora, e propunha a formação pelo Estado de unidades de trabalho coletivo, os Falanstérios, nas quais deveria ser possível exercer produções agroindustriais, com oportunidades iguais de emprego e sobrevivência para todos. A ideia também não se transformou em prática, uma vez que vai na contramão do modelo capitalista de trabalho, de remuneração e das condições de vida da época.
• Robert Owen: Este pensador era um burguês dono de indústrias têxteis em diversos países e que, mesmo com o sistema capitalista trabalhando muito bem para o seu caso, desejava ver uma grande diminuição na desigualdade social. Como tinha muito dinheiro, Owen resolveu dar o exemplo: ele reduziu a jornada de trabalho de seus funcionários, estabeleceu condições salubres e legais de empregabilidade, instituiu “creches” para que as crianças tivessem onde ficar enquanto os pais trabalhavam, estipulou um modelo de vales para que os operários pudessem adquirir itens básicos (comida, roupa) e acabou indo à falência, pois teve um gasto muito maior do que o lucro de suas empresas e não conseguiu sustentar seu modelo trabalhista e social.

Críticas de Engels e Marx em relação ao socialismo utópico

O marxismo, chamado também de socialismo científico, teve sua base no modelo de estudos de Karl Marx e Friedrich Engels. Para esses dois pensadores, o socialismo seria possível apenas se houvesse uma grande análise crítica do sistema capitalista e suas mazelas.

Marx criticou o socialismo utópico porque, para ele, esse movimento era focado apenas no modelo social ideal e não nas mudanças que seriam necessárias para que esse modelo se tornasse viável. Os marxistas diziam que o socialismo utópico nada mais era do que um modelo fantasioso do pensamento burguês, algo bonito no papel, mas inviável na prática.

Engels defendia o mesmo ponto de vista de Marx, mas reconhecia que o modelo do socialismo utópico serviu para alavancar, pela primeira vez, uma crítica ao individualismo liberal e ao verdadeiro descaso social que acompanhou o progresso do capitalismo. Marx, Engels e seus contemporâneos socialistas científicos não acreditavam na benevolência dos burgueses em prol da classe trabalhadora.

Diferenças entre socialismo utópico e científico

Conhecendo os ideais defendidos pelos pensadores do socialismo utópico e as críticas dos marxistas, fica mais fácil perceber que existem muitas diferenças entre o primeiro tipo de modelo socialista e o socialismo científico.

No famoso e polêmico livro “Manifesto Comunista”, escrito por Marx e Engels, os estudiosos expam o que concluíram ao fazer uma análise aprofundada sobre o modelo econômico capitalista, a exploração da mão de obra da classe trabalhadora e a divisão desproporcional de poderes e bens.

De acordo com eles, o capitalismo pode ser dividido entre exploradores, pessoas ricas e donas dos meios de produção, e explorados, a massa de proletários que vendem sua força de trabalho em troca de quase nada, o que garantia o acúmulo de riquezas dos exploradores e mantinha a miséria dos explorados, que continuariam a se submeter a condições tão precárias de trabalho por questão de sobrevivência.

Os marxistas buscavam não apenas apontar os erros do capitalismo, mas também propor uma forma de desenvolver uma sociedade justa através da revolução e da luta de classes, que, ao contrário do que é pregado no socialismo utópico, não é possível apenas com estudos e diálogo, mas sem lutas armadas.

Exercícios sobre socialismo utópico

1. (Uece 2014) O século XIX foi marcado pelo surgimento de correntes de pensamento que contestavam o modelo capitalista de produção e propunham novas formas de organizar os meios de produção e a distribuição de bens e riquezas, buscando uma sociedade que se caracterizasse pela igualdade de oportunidades. No que diz respeito a essas correntes, assinale a afirmação verdadeira.

a) O socialismo cristão buscava aplicar os ensinamentos de Cristo sobre amor e respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização, mas apesar de vários teóricos importantes o defenderem, a Igreja o rejeitou através da Encíclica Rerum Novarum, lançada pelo Papa Leão XIII.
b) No socialismo utópico, a doutrina defendida por Robert Owen e Charles Fourrier, prevaleciam as ideias de transformar a realidade por meio da luta de classes, da superação da mais valia e da revolução socialista.
c) O socialismo científico proposto por Karl Marx e Friedrich Engels, através do manifesto Comunista de 1848, defendia uma interpretação socioeconômica da história dos povos, denominada materialismo histórico.
d) O anarquismo do russo Mikhail Bakunin defendia a formação de cooperativas, mas não negava a importância e a necessidade do Estado para a eliminação das desigualdades.

2. (Mackenzie) Os primeiros socialistas, ao formularem profundas críticas ao progresso industrial, estavam ainda impregnados de valores liberais. Atacando os grandes proprietários, mas tendo, em geral, muita estima pelos pequenos, esses teóricos acreditavam que pudesse haver um acordo entre as classes. (Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo)

Os historiadores acima estão se referindo aos:

a) socialistas científicos.
b) socialistas utópicos.
c) anarquistas.
d) marxistas.
e) socialistas liberais.

3. (UNICID, 2010) As más condições de vida e trabalho do operariado fazem com que, no século XIX, uma série de intelectuais se preocupem com a natureza da sociedade capitalista. O socialismo surge, nesse momento, como uma teoria que propõe mudanças no sistema. O movimento atravessa duas fases: a do socialismo utópico e a do socialismo científico, cujas características são, respectivamente:

1. o estímulo à quebra de máquinas como forma de se retornar ao trabalho artesanal e a proposta de que a produção deveria ser organizada em sistema de cooperativas.
2. a adoção de uma estrutura jurídica que beneficiasse apenas os trabalhadores nascidos no próprio país e a crença na revolução social como motor de mudanças.
3. a valorização da organização de sindicatos e o estímulo aos movimentos que reivindicavam a participação dos trabalhadores nas decisões políticas de seu país.
4. a proposta do estabelecimento da ditadura do proletariado e o estímulo à reforma da sociedade no sentido de associar a busca da felicidade com a cooperação.
5. a proposta de uma reestruturação da sociedade, acabando com a distinção entre os “ociosos” e os “trabalhadores” e a crença na mudança baseada na luta de classes.

4. Comparando as ideias socialistas que circularam nas sociedades europeias, ao longo do século XIX, conclui-se que as(o):

a) ideias socialistas foram contraditórias, pois oscilaram entre a defesa das liberdades individuais e a crença no utilitarismo.
b) comunismo questionou o racionalismo universalista ilustrado, discordando dos utópicos.
c) socialismo utópico denunciou a questão social causada pelo desenvolvimento capitalista por meio da defesa da luta de classes.
d) socialismo marxista promoveu uma reunião de ideias desenvolvidas por pensadores anteriores.
e) socialismo científico assimilou elementos do pensamento iluminista e do socialismo utópico.

Gabarito:

1. Alternativa C
2. Alternativa B
3. Alternativa E
4. Alternativa E